77 reuniões com a direita americana

Visto como sucessor do pai, Eduardo Bolsonaro não poupou esforços para crescer entre o círculo de apoiadores de Trump

Por Alice Maciel, Natalia Viana, Ken Silverstein, Bianca Muniz, Agência Pública

Na tarde de quarta-feira, 28 de setembro, o senador democrata Bernie Sanders foi à tribuna do Congresso americano para denunciar as ameaças contra o sistema eleitoral feitas por Jair Bolsonaro. “É importante que o povo do Brasil saiba que estamos do seu lado”, disse. Por sua iniciativa, o Senado aprovou por unanimidade uma resolução pedindo que os Estados Unidos “continue a se manifestar contra os esforços para incitar a violência política e minar o processo eleitoral no Brasil”.

Porém, mesmo se o atual presidente Jair Bolsonaro for derrotado nas urnas, como parecem apontar as pesquisas, o futuro do clã terá a ver com a teia de relações internacionais construídas por Eduardo Bolsonaro nos últimos anos – em especial com proeminentes aliados de Donald Trump nos Estados Unidos.

“O que eu tento fazer, especialmente com Eduardo, é falar sobre como [desenvolver] um movimento nacionalista populista na América Latina, em como conectá-lo, fazer com que as pessoas de cada país se comuniquem, compartilhem ideias, digam o que está dando certo ou não. Sempre tentei ser uma espécie de posto de intercâmbio, para garantir que possamos fazer conexões e interconectar pessoas”, explicou o estrategista Steven Bannon à BBC.

Nos últimos cinco anos, Eduardo Bolsonaro participou de ao menos 77 encontros e eventos com representantes e lideranças da ala política conservadora dos EUA, incluindo Donald Trump e sua família. É o que mostra o levantamento realizado pela Agência Pública nas redes sociais do parlamentar.

Mark Ivanyo, que é diretor executivo do think tank Republicans for National Renewal, cujo objetivo é construir pontes entre os EUA e a direita global, apontou Eduardo Bolsonaro como uma figura-chave nesse xadrez, com quem já esteve cerca de cinco vezes. “Eduardo Bolsonaro é o nosso principal parceiro [no Brasil]”, disse ele em entrevista à Pública. Em 2020, o deputado federal foi orador do evento de inauguração do think tank.

“Eduardo tem um futuro político brilhante, é o melhor e a única pessoa que pode suceder o seu pai quando chegar a essa altura”, destacou.

Além de identificar uma viagem de apoiadores de Trump às vésperas de 7 de setembro de 2021, a Pública mapeou as reuniões de Eduardo Bolsonaro com expoentes da direita dos EUA nos últimos cinco anos e alguns aliados relevantes. A lista abaixo está em ordem alfabética:

Carol Adams, doadora do Partido Republicano próxima de Donald Trump. Esteve no jantar no Copacabana Palace e ficou bem impressionada com Jair e Eduardo Bolsonaro, conforme nos relataram fontes presentes.

Charlie Gerow, estrategista do Partido Republicano e presidente da União Conservadora Americana (ACU), think tank conservador que está no centro da aliança entre aliados de Trump e de Bolsonaro e organiza os CPACs. Gerow é tão próximo ao clã Bolsonaro que participou de um evento da família de Eduardo. Também esteve no Palácio do Planalto em 7 de setembro de 2021 ao lado de Jair, Eduardo e Sérgio Sant’Ana.

Charlie Kirk, ativista conservador que é CEO do grupo Students for Trump e do grupo de direita Turning Point USA. Eduardo falou no Turning Point este ano e agradeceu a Charlie por convidá-lo. Ele celebrou o fato de que seu pai triplicou o número de armas no Brasil e que existem hoje mais armas nas mãos de civis do que de militares.

Connor Hickey, que também foi identificado na lista de convidados do jantar no Copacabana Palace como afiliado à empresa Winning Team.  Ex-funcionário da Rand Paul, seu LinkedIn diz que é correspondente legislativo do Senado dos EUA.

Dan Schneider, ex diretor executivo da ACU e hoje vice-presidente de pesquisa de mídia do Free Soeech America, organiação conservadora que advoga pela “liberdade de expressão. Reuniu-se com Eduardo em março de 2019, em encontro registrado no Twitter do deputado. No se Twitter mantem uma foto com Eduardo como destacada.

Darren Beattie, ex-redator de discursos na Casa Branca de Trump. Foi  demitido em 2018 por participar de uma conferência que contou com a presença de nacionalistas brancos proeminentes. Beattie estava num jantar organizado por Bannon no Trump Hotel, onde foi exibido o filme Jardim das aflições, sobre Olavo de Carvalho, no qual Eduardo discursou. Beattie tirou uma foto com o Eduardo Bolsonaro e postou no seu Instagram.

Don Huffines, ex-senador, um empresário de direita do Texas e doador político republicano que viajou ao Brasil para o jantar no Copacabana Palace em 8 de setembro de 2021.

Donald Trump Jr, filho de Donald Trump, viria a Brasília no CPAC em setembro de 2021, mas cancelou sua vinda por causa do mau tempo. Diz que Eduardo Bolsonaro é seu amigo. Os dois se conheceram em janeiro de 2018 na feira de armas Shot Show.

Doug Stafford, consultor político e estrategista-chefe e arrecadador de fundos para o senador republicano Rand Paul.

Gerald Brant, executivo financeiro brasileiro radicado em Nova York. É o principal intermediário entre a direita norte-americana e a brasileira, disseram várias fontes. Brant negociou apresentações com líderes empresariais dos EUA, think tanks como o Council on Foreign Relations e figuras políticas conservadoras, incluindo Bannon, ainda antes da eleição de Bolsonaro, em 2017. Brant também foi interrogado pela PF no aeroporto de Brasília em 7 de setembro de 2021.

Heritage Foundation, um dos maiores think tanks conservadores americanos, que, sediado em Washington DC, foi inspiração para a criação do Instituto Conservador Liberal (ICL), por Eduardo. Em fevereiro de 2020, Eduardo visitou a sede da instituição, que recebeu também os ex-ministros de Bolsonaro Damares Alves e Ernesto Araújo. Eduardo foi recebido pelo pesquisador-visitante James R. Otterson. 

Jared Kushner e Ivanka Trump, genro e filha de Donald Trump, são próximos de Eduardo Bolsonaro. Foi a convite de Ivanka que Eduardo viajou para uma visita não anunciada aos EUA às vésperas da invasão do Capitólio e foi recebido na Casa Branca, ao lado do embaixador Nestor Forster.

Jason Miller, um estrategista de comunicação e conselheiro político que foi conselheiro sênior da campanha de Trump em 2020. Jason é fundador do Gettr, plataforma social de tendência conservadora que patrocinou eventos que fizeram pré-campanha para Jair Bolsonaro. Miller esteve no Brasil duas vezes apenas em 2022, uma delas no comício de Bolsonaro em Copacabana em 7 de setembro.

Jonathan Hall, pastor evangélico que se reuniu com Eduardo Bolsonaro e seu sócio Sérgio Sant’Ana “para falar de CPAC, think tanks e outros planos para fortalecer o movimento conservador no Brasil”, segundo escreveu Eduardo Bolsonaro no Instagram. “A conexão Brasil-EUA segue a todo vapor!” 

Mario Balaban, brasileiro que hoje é porta-voz do Projeto Veritas. Balaban já foi anteriormente um “correspondente internacional para o Terça Livre”.

Mark Green, deputado republicano pelo Tennessee que votou contra a certificação da eleição de Biden pelo Congresso americano. Esteve no Brasil para o CPAC e reuniu-se com Bolsonaro e seus ministros, além de ter participado de almoço com os deputados bolsonaristas Bia Kicis (PL-DF) e Filipe Barros (PL-PR) para discutir “integridade eleitoral”.

Mark Ivanyo, diretor influente think tank de extrema direita Republicans for National Renewal, que é “dedicado a promover o populismo conservador dentro do Partido Republicano” e tem laços estreitos com Viktor Orban, presidente da Hungria. Ivanyo também é amigo de Eduardo Bolsonaro, que encabeçou o evento inaugural de seu grupo em 2020, realizado durante um CPAC (Conservative Political Action Conference) nos EUA.

Matt e Mercedes Schlapp, um casal conservador muito influente na  American Conservative Union (ACU) que organiza os CPACs. Matt é o presidente da organização. Mercedes é membro sênior da CPAC Foundation e foi consultora sênior de comunicações estratégicas para a campanha de Trump em 2020.

Matthew Tyrmand é membro do conselho do Projeto Veritas, uma  organização conservadora que usa câmera escondida para “expor” jornalistas. Ele esteve no Brasil para o CPAC de 2021 e estava no aeroporto de Brasília quando Jason Miller foi interrogado pela Polícia Federal (PF).

Mike Lee, senador republicano que participou do jantar no Copacabana Palace em 8 de setembro de 2021. Foi um dos que falaram no evento, e vários dos presentes eram financiadores de sua campanha.

Mike Lindell, CEO da empresa My Pillow e apoiador ardente de Donald Trump, em especial da campanha “Stop The Steal”, que propagou mentiras sobre fraudes nas urnas. Lindell encontrou Eduardo Bolsonaro no dia 5 de janeiro em Washington DC e o levou para uma conferência em agosto de 2021 em que Eduardo disse que as eleições deste ano no Brasil podem ser fraudadas.

Nick Luna, ex-assistente pessoal e guarda-costas do ex-presidente Donald Trump. Ele estaria no Salão Oval em 6 de janeiro de 2021, quando Trump ligou para o vice-presidente Mike Pence para pressioná-lo a não certificar os resultados das eleições.

Sergio Gor é conselheiro sênior do senador republicano Rand Paul. Em 2020 comandou o gabinete do Trump Victory Finance Committee, comitê que arrecadou dinheiro para a campanha de reeleição. É sócio de Donald Trump Jr. na editora Winning Team Publishing. Gor ajudou Sérgio Sant’Ana a organizar o jantar no Copacabana Palace e recebeu agradecimento de Eduardo Bolsonaro.

Steve Bannon é um ideólogo e agitador da ultradireita americana, que chegou a ser estrategista da Casa Branca durante o governo de Trump. Ele nomeou Eduardo Bolsonaro como representante do seu The Movement, um movimento populista global, e afirma estar constantemente em contato com Eduardo. Desde 2019, tem o podcast War Room, que tratou várias vezes das eleições no Brasil.

Em viagem aos Estados Unidos da América, EUA, Bolsonaro presta continência à bandeira americana e puxa coro de “USA, USA, USA!”. Outubro de 2017. Imagem captada de vídeo

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